Essa tendência foi observada tanto no mercado de investimento comercial quanto nos segmentos transacionais de habitação, hotéis, varejo e logística. A exceção foi o setor de escritórios, onde a atividade cresceu consideravelmente em relação ao ano anterior. Cabe destacar também que, em alguns dos setores analisados, a escassez de oferta disponível para ocupação imediata continua criando condições para o crescimento de preços e renda, mesmo em um cenário de demanda menos

expansiva.

Joana Fonseca, diretora de consultoria estratégica e pesquisa da JLL, comenta: “Um início de ano com atividade moderada já era esperado. Esse é sempre um período de maior expectativa em relação à evolução da economia, principalmente devido à inflação e ao aumento das taxas de juros. A realização das eleições contribuiu para aumentar a incerteza que naturalmente predomina no início do ano, levando os agentes econômicos a se tornarem mais cautelosos em suas decisões de investimento. A resposta do mercado a um maior nível de incerteza foi “esperar para ver”, tanto no mercado comercial quanto no residencial

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No primeiro trimestre deste ano, 260 milhões foram investidos em imóveis comerciais, diferindo pouco do mesmo período do ano passado (-5 por cento) ou da média dos últimos três anos (+ 6 por cento). No setor hoteleiro, o número de hóspedes e dormidas nos primeiros dois meses do ano apresentaram ligeiras melhorias em relação a 2023 (5 por cento e 3 por cento, respectivamente), bem como os níveis de ocupação, que atingiram 60 por cento em Lisboa e 53 por cento no Porto no primeiro trimestre, em ambos os casos dois pontos percentuais a mais do que no primeiro trimestre de 2023. No setor imobiliário, a JLL estima que a demanda neste trimestre ainda seja um pouco menor do que no mesmo trimestre do ano anterior, no entanto, a tendência mais recente é de estabilização nos níveis de transações, destacando a boa dinâmica de vendas na fábrica para projetos diferenciados e também a manutenção da atividade entre compradores internacionais. No varejo, as vendas também sinalizam uma variação residual de cerca de 0,5%, destacando a estabilidade operacional dos diferentes formatos de imóveis de varejo

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O segmento de escritórios se destaca positivamente dos demais, registrando uma recuperação notável em relação ao ano anterior, com a ocupação mais que dobrando em Lisboa e Porto, com 73.700 m2 e 18.000 m2 ocupados, respectivamente. Também vale destacar o comportamento dos imóveis industriais e logísticos, nos quais a ocupação mostra uma queda de 20% em relação ao ano anterior, embora como resultado da falta de oferta para absorver, pois os aluguéis

continuaram a aumentar.

De acordo com Joana Fonseca, “a escassez de propriedades disponíveis adequadas às exigências da demanda continua a influenciar o comportamento do mercado nos mais diversos segmentos. Portanto, apesar de uma desaceleração natural da demanda no ano passado, não há ajustes para baixo nos preços e aluguéis e há até aumentos de valor em alguns segmentos. Isso é especialmente visível em habitação, logística e hotéis, enquanto setores como escritórios e varejo mantêm seus aluguéis principais em níveis muito

robustos.

Nos hotéis, as diárias médias estão em níveis máximos para esse período do ano em Lisboa (139) e Porto (99), com impacto no RevPAR, que atingiu 83 e 52, respectivamente. Na habitação, sem prejuízo do fato de que no ano passado houve uma queda de quase 19 por cento nas vendas, os preços em nível nacional mantêm uma trajetória ascendente, que ainda mais lenta, continua atingindo cerca de 8 por cento (dados do INE). No primeiro trimestre, os preços devem manter essa tendência, seja devido à disparidade entre demanda e oferta ou ao aumento persistente dos custos de construção. Na logística, houve um aumento nas rendas nobres na maioria das áreas das regiões de Lisboa e Porto, continuando o comportamento dos últimos trimestres. No varejo, a nota é que os aluguéis se estabilizaram em diferentes formatos, com exceção do comércio de rua no Porto, onde a tendência é de aumento, especialmente na Avenida dos Aliados, que atingiu 55/m2. Os aluguéis de escritórios principais permaneceram, em geral, estáveis, permanecendo em 28/m2 em Lisboa (Prime CBD) e 19/m2 no Porto (CBD Boavista).

âApós o primeiro trimestre, o mercado mais uma vez provou sua resiliência em situações de maior incerteza ou adversidade. E agora que temos um novo Governo em funções, com o anúncio da retificação de muitas medidas que são especialmente penalizadoras para o setor; nas quais se prevê uma redução nas condições de acesso ao crédito e controle dos níveis de inflação, a perspectiva é que o ano de 2024 recupere progressivamente a dinâmica da procura nos vários setores, mantendo o consequente estímulo de valorização”, nota Joana Fonseca

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Ela acrescenta: “Tendo chegado aqui, tanto em termos do impacto das condições macroeconômicas quanto do impacto do ambiente político, somos capazes de ter perspectivas mais sólidas para a atividade do mercado em termos de demanda. Agora aguardamos com grande expectativa a materialização de novas propostas governamentais para habitação, para que possamos finalmente mobilizar o setor para criar uma oferta habitacional, fazendo isso com escala e diversificação de faixas de valor. Essa é a questão estrutural que continua condicionando nosso mercado e que temos que resolver

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