Um vírus emergente apelidado de "febre da preguiça" causou algum alarme, depois de o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças ter comunicado que, pela primeira vez, foram detectados 19 casos importados da doença na União Europeia.


O vírus oropouche (OROV), um arbovírus ARN, foi detectado pela primeira vez na aldeia de Oropouche, em Trinidad e Tobago, em 1955.


É transmitido às pessoas principalmente através da picada de mosquitos infectados, de acordo com a London School of Hygiene and Tropical Medicine. Alguns mosquitos também são conhecidos por serem portadores do vírus.


Em julho, a Organização Pan-Americana da Saúde(OPAS) emitiu pela primeira vez um alerta epidemiológico sobre o aumento do número de casos registados do vírus em cinco países - Brasil, Bolívia, Peru, Cuba e Colômbia.

Por que é chamada de febre da preguiça?

Segundo a revista médica Lancet, o vírus tem como reservatório a preguiça-de-garganta-pálida, mas também primatas não-humanos e aves. No entanto, a possível ligação com as preguiças parece ter pegado.

Créditos: PA; Autor: PA;

"O termo 'febre da preguiça' é uma designação coloquial que surgiu devido ao facto de o vírus ser encontrado em zonas onde estão presentes preguiças, que são conhecidas por transportarem uma série de parasitas e agentes patogénicos", explica Carolina Gonçalves, farmacêutica superintendente da Pharmica. "No entanto, o nome é relativamente enganador, uma vez que é transmitido por picadas de insectos e não por contacto direto com preguiças."

Por que isso aconteceu?

O Dr. Enny Paixao, professor associado da London School of Hygiene and Tropical Medicine, disse: "Vários factores podem explicar o recente surto, incluindo uma vigilância reforçada, alterações climáticas e ambientais e potenciais alterações do vírus.

"À semelhança de outras doenças transmitidas por vectores, como a dengue, as alterações climáticas podem também estar a afetar a expansão do vírus oropouche.

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"Mudanças na temperatura e na precipitação podem afetar a transmissão, por exemplo, o aumento da temperatura pode aumentar a taxa de desenvolvimento de mosquitos culicoides, um dos principais vetores de transmissão do vírus na América do Sul, ao lado dos mosquitos."

Embora o vírus da oropouche não seja novo, os factores que estão na origem do recente aumento acentuado sublinham a necessidade de mais investigação, explicou.

"Até que sejam feitos avanços no desenvolvimento de vacinas ou no controlo de mosquitos e mosquitos, ou até que a imunidade natural da população no Brasil [e noutros países afectados] aumente, o desafio colocado por esta doença tropical negligenciada irá persistir."

Será que vou apanhar?

O Dr. Philip Veal, consultor de saúde para viajantes da UK Health Security Agency(UKHSA), disse: "O mosquito que transporta o vírus da oropouche não está atualmente estabelecido na Europa. "Encontra-se normalmente nas Américas. Não há provas de que o vírus se possa propagar de pessoa para pessoa."

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A UKHSA acrescentou ainda que todos os casos diagnosticados na Europa foram adquiridos noutros locais.

Quem está em maior risco?

"Há muita coisa que ainda não sabemos sobre o vírus da oropouche, mas uma das principais preocupações decorrentes do atual surto na América do Sul é o seu potencial efeito nocivo nos fetos em gestação", afirmou Paixão.

Em julho, a OPAS emitiu um alerta sobre a potencial transmissão do vírus da oropouche de mãe para filho no Brasil.

"Alguns estudos muito limitados sugeriram que anticorpos contra o vírus foram encontrados em crianças nascidas com microencefalia e que pode haver uma ligação entre infeção, aborto espontâneo e mortes fetais no Brasil, mas são necessárias mais pesquisas para investigar uma possível ligação causal", diz Paixão.

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Quais são os sintomas?

A London School of Hygiene and Tropical Medicine esclareceu que os sintomas comuns incluem uma erupção cutânea, dor de cabeça, dores musculares ou articulares com fraqueza. Os indivíduos afectados apresentam normalmente uma doença febril três a oito dias após a infeção

Além disso, em alguns casos, os indivíduos podem também apresentar sintomas gastrointestinais e sensibilidade à luz. O centro de investigação acrescentou ainda que os casos graves são raros, mas podem levar a sintomas neurológicos semelhantes aos da meningite.

Pode ser tratada?

"Até à data, não existem tratamentos antivirais específicos ou vacinas disponíveis para o vírus da oropouche", afirmou Gonçalves. "O tratamento centra-se principalmente na gestão dos sintomas e na prestação de cuidados de apoio."

Normalmente, os doentes são aconselhados a descansar, a manter-se hidratados e a tomar analgésicos de venda livre, como o paracetamol, para reduzir a febre e aliviar a dor.

"Em casos mais graves, pode ser necessária a hospitalização para prestar cuidados de apoio, especialmente se surgirem complicações, embora os casos graves sejam relativamente raros", acrescentou Gonçalves.

O que devo fazer se estiver a planear viajar para uma zona afetada?

"Quando viajar para áreas afectadas, pode evitar a infeção prevenindo as picadas de insectos. Use repelente de insectos, cubra a pele exposta e durma debaixo de uma rede de cama tratada", disse Veal. "Planeie com antecedência e visite o sítio Web TravelHealthPro para consultar o seu destino e as informações e conselhos de saúde mais recentes, especialmente se estiver grávida."