Quer queiramos quer não, estas mensagens são geralmente direcionadas ao feminino. No entanto, Rui Estrela tem tentado mudar o paradigma, trazendo várias ferramentas para os homens que querem viver com mais paixão, propósito e poder. Após 16 anos, Rui é neste momento a principal referência do sagrado masculino em Portugal.
Como muitas pessoas, Rui trabalhava no mundo corporativo e empresarial. "Tinha empresas de marketing e trabalhava com a Coca-Cola, EDP, coisas que deixavam o meu sangue a borbulhar, mas num mau sentido, pois era muito stressante", constatou.
Rui aparentemente tinha tudo o que qualquer homem poderia sonhar. Os negócios corriam bem, não tinha problemas com dinheiro, mas Rui sentia que algo estava em falta. O mundo perfeito em que vivia, não era assim tão perfeito. "Não me sentia realizado, não me sentia feliz. Por esse motivo, há cerca de 16 anos, comecei a conhecer-me um pouco melhor através do desenvolvimento pessoal, coachinge algumas terapias que me interessavam".
Após muita pesquisa sobre o sagrado masculino, chegou a um ponto em que não conseguia encontrar informação suficiente. "A maioria das práticas ancestrais masculinas foram abolidas, queimadas. A inquisição também fez muito mal aos homens", explicou.
Por sua vez, Rui decidiu viajar pelo mundo em busca de conhecimentos ancestrais sobre o sagrado masculino. "Conheci vários sábios, homens mais velhos que ainda continuavam com algumas práticas ancestrais e fui montando o meu puzzle. Depois muitos homens começaram a seguir o meu trabalho e a pedir-me que o partilhasse. Ao longo dos anos, fui atraindo mais pessoas".
"Hoje sou a referência nacional do sagrado masculino. Também já estou em alguns encontros europeus onde represento Portugal, nos quais discutimos o estado de saúde dos homens ao nível europeu", explicou.
Sagrado Masculino
O Sagrado Masculino é um termo que se perdeu no tempo. Pelo que é normal que o encaremos com estranheza. “No fundo, é tu olhares para ti como o ser sagrado que és e olhares para ti como um mero humano. As coisas que tu pensas, sentes e defendes são sagradas. Quando tu comes ou estás a trabalhar o teu corpo, torna isso sagrado. Quando fazes amor com alguém é um momento sagrado. Quando fazes práticas ancestrais para te nutrires, é sagrado”.
Em suma, "é tornares a tua vida sagrada", sublinhou. No entanto, não podemos considerar todas as práticas sagradas. "Eu não vou tomar como sagrado, fumar, beber álcool, bater nas pessoas. Aliás, estes comportamentos estão a tirar-me a sacralidade que eu tenho”, rematou.
Saúde mental masculina
Embora Rui não queira fazer generalizações, uma vez que todos os homens são diferentes, “há homens que trabalham arduamente para se desenvolverem todos os dias”, mas há outros homens “completamente alienados e inconscientes”.
No entanto, os tempos mudaram e hoje em dia há cada vez mais homens a abrir os seus corações e a olhar para o seu “eu” interior. “Nos últimos cinco anos, o homem tem-se preocupado mais com a sua saúde mental e com o seu desenvolvimento humano”, explicou.
"Sinto que as coisas já estão no bom caminho, já não o sinto há 10 anos. É uma coisa muito recente. Muitos homens já começam a compreender que a maneira antiga dos nossos avós, pais, não faz qualquer sentido", disse.
Patriarcado
"O machismo afeta as mulheres como consequência, mas afeta os homens como responsáveis por estes comportamentos. O machismo é o polícia do patriarcado. É o que mantém as regras do patriarcado. Durante gerações foi-nos ensinado como é que um verdadeiro homem deve ser: um homem que não chora, viril, extremamente sexual, por vezes opressivo do feminino. Quando estes dogmas começam a cair, tudo começa a desvanecer-se porque não só o homem, mas também a mulher começa a viver mais feliz", disse Rui Estrela ao The Portugal News.
"Todas as pessoas querem ser felizes. A maior parte do atual comportamento machista parte de pessoas que não sabem como agir de forma diferente. Eles não têm culpa, não tiveram oportunidade de conhecer outra versão de si mesmos. Não têm referências de como se comportar. Então vão continuar com o velho patriarcado, os velhos ensinamentos. Quando isso acontece, não apenas ele é afetado, mas tudo à sua volta", disse.
“A raiz da mágoa do homem vem de um centro muito principal que é o nosso coração. O homem foi desligado do seu coração através do patriarcado durante milénios. Não faz mal chorar, não faz ter um abraço, é bom partilhar, é bom abrir, ao abrir te curas, é o caminho principal e o único caminho, juntando um pouco de espiritualidade”, acrescentou.
Caminho de regresso a casa
"Muitos dos desvios dos homens hoje em dia, tais como, drogas, infidelidade, e dificuldade em assumir compromissos vêm de buracos emocionais que estão a divergir para doenças, seja do foro psicológico ou emocional", disse.
Para viver uma vida mais feliz e completa é importante “deixar de sentir que eu só sou homem se for considerado pelo exterior. Se comprar um carro caro, se tiver uma mulher bonita e bastante dinheiro". Para contrariar este dogma, Rui sugere que todos os homens regressem casa de volta ao seu coração.
"Para mim, a salvação do nosso mundo depende deste trabalho porque a maioria das situações que estão a adoecer o mundo são patrocinadas por homens inconscientes em posições de poder", concluiu.
Para obter mais informações, bem como participar nos retiros de homens que Rui Estrela promove, basta segui-lo no Instagram.
Paula Martins is a fully qualified journalist, who finds writing a means of self-expression. She studied Journalism and Communication at University of Coimbra and recently Law in the Algarve. Press card: 8252