Maria Severa Onofriana nasceu a 26 de julho de 1820, na Madragoa, em Lisboa, tendo mais tarde ficado na zona da Mouraria. Pouco se conhece desta mulher que encantou portugueses no século XIX, na época de tensão política, onde a monarquia absolutista portuguesa estava no fim, para dar lugar a uma monarquia constitucional.

Os relatos que se conhecem são fruto de memórias deixadas por artistas da época, que por se terem cruzado com Maria Severa sentiram necessidade de a imortalizar. Segundo o poeta Bulhão Pato, Severa era “uma fadista interessantíssima”, referindo até que na Mouraria nunca mais iria existir uma fadista como ela. Segundo o poeta, a jovem fadista, tinha tanto de generosa como de afrontosa, não tinha problemas em acarinhar quem gostava, como podia estar segundos depois perante uma rixa violenta, onde se defendia a si e aos seus. Fisicamente era por todos descrita como “esbelta”, como uma mulher alta, com um olhar penetrante.

Pouco se sabe também sobre as suas origens. Sempre foi retratada como filha de pai cigano, no entanto, há medida que o tempo passa novas pistas têm surgido. O jornal Público, recentemente, publicou um artigo onde relatava que Maria Severa pudesse ter origens africanas, tendo os seus ascendentes sido trazidos para Portugal na época seiscentista.


No entanto, a voz sempre foi a característica mais mitificada desta mulher. Uma voz calorosa, carregada de mágoa, que conjugava com a sensualidade de Severa, que não deixava que os homens se aproximassem dela. A sua voz forte e os movimentos sacudidos davam a entender que Severa queria apenas ser ouvida e não tocada. Pouco se sabe também onde cantava a jovem fadista, especula-se que terá sido em circuitos de prostituição, no Bairro Alto e na Mouraria, no entanto, Maria Severa chegou a mostrar a sua voz a alguns aristocratas.

Nos jornais da época, estão relatos de atuações de Maria Severa no Palácio do Conde, assim como refere a relação amorosa da cantora com o Conde de Vimioso, que eventualmente conheceu enquanto cantava na taberna da Rosaria dos Óculos, na Rua do Capelão. A relação amorosa com D. Francisco de Paula Portugal e Castro trouxe ainda mais visibilidade à cantora que fazia ecoar a sua voz nas ruas de Lisboa, enquanto tocava a sua guitarra.

Maria Severa Onofriana morreu aos 26 anos, uma morte precoce, sem ter deixado registos da sua voz. Há quem diga que tenha sido Severa, como ficou conhecida, a fundadora do Fado como hoje é conhecido. A sua história foi imortalizada por Júlio Dantas que teve, em 1931, a obra adaptada ao cinema, naquele que foi o primeiro filme sonoro português. Em 1990, a obra de Júlio Dantas foi adaptada ao teatro, contando com Lena Coelho, ex-vocalista das Doce, a interpretar Severa. A aclamada fadista Amália Rodrigues, em 1955, representou Severa num musical, numa peça encenada pela companhia de Vasco Morgado.

Na Mouraria, na Rua do Capelão, encontra-se o Largo da Severa, local onde morava a fadista, que tem a sua antiga casa assinalada com “Casa da Severa” e, em calçada portuguesa, pode ver-se no chão uma guitarra portuguesa.


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Deeply in love with music and with a guilty pleasure in criminal cases, Bruno G. Santos decided to study Journalism and Communication, hoping to combine both passions into writing. The journalist is also a passionate traveller who likes to write about other cultures and discover the various hidden gems from Portugal and the world. Press card: 8463. 

Bruno G. Santos