Numa semana em que os ataques a imigrantes no Porto são notícia, Catarina Reis de Oliveira sublinhou que a "evidência estatística" não associa os imigrantes à criminalidade e que Portugal não tem um número elevado de cidadãos estrangeiros em relação à média europeia.

No primeiro debate sobre o fenómeno migratório, organizado pela Assembleia Municipal de Lisboa e subordinado ao tema "Gestão das migrações: respostas institucionais", Catarina Reis de Oliveira lembrou que o Observatório defende uma "gestão das migrações baseada em evidência estatística" e que o objetivo da organização é "fundamentar políticas públicas mais informadas".


Combater os mitos

Por isso, é necessário "combater os mitos e estereótipos sobre os imigrantes em Portugal", afirmou, defendendo a realização de campanhas de comunicação mais intensas para desmontar esta desinformação.

"Há muitas falsas percepções sobre as migrações" e cabe ao Observatório "continuar a acompanhar e a validar se os factos confirmam ou não essas percepções", mas até agora os dados não indicam que Portugal esteja numa situação preocupante.

"É evidente que a migração tem aumentado em Portugal", mas "estamos longe do impacto que a população estrangeira tem em comparação com outros países europeus".

Tudo indica que os dados de 2023 mostram que Portugal "já ultrapassou um milhão de residentes estrangeiros", mas os dados de 2022 - os únicos já públicos - indicam que a população imigrante representava apenas 7,5% do total de residentes, colocando o país no 18º lugar da Europa, um ranking liderado pelo Luxemburgo (47%).

Apesar disso, o investigador admite que existem pressões sociais porque a "população estrangeira não está distribuída de forma homogénea pelo país", com 16% dos imigrantes a viverem em Lisboa.

No entanto, numa análise per capita, concelhos como Vila do Bispo, Odemira e Albufeira têm mais imigrantes do que a capital.

Na sociedade portuguesa, "há percepções erradas e é preciso enfrentá-las", afirmou o diretor do Observatório, considerando que não existem dados que indiquem uma "relação entre imigrantes e criminalidade", que os estrangeiros sejam "dependentes de subsídios" ou que "roubem empregos aos nacionais".

Para combater estes mitos, as autoridades precisam de promover "ferramentas de desconstrução", recorrendo a campanhas nas redes sociais e noutras plataformas que cheguem às pessoas.

A Polícia Judiciária(PJ) deteve hoje o suspeito de dois crimes de tentativa de homicídio e dois crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência, ocorridos na madrugada de segunda-feira contra dois imigrantes no Porto.

Nos últimos meses, a baixa do Porto tem sido palco de vários tumultos e crimes de ódio, o que, segundo fonte da PSP ouvida hoje pela Lusa, levou a um "reforço" da vigilância policial nas zonas consideradas mais críticas.

Na Assembleia Municipal de Lisboa, Vasco Malta, chefe da missão da Organização Internacional para as Migrações(OIM) em Portugal, lembrou que o Porto é apenas o quarto distrito do país com mais imigrantes e defendeu que "a imigração organizada beneficia todos".

Presente no debate, Mário Ribeiro, diretor do Departamento de Integração de Migrantes da Agência para a Integração, Migração e Asilo(AIMA), afirmou que a regularização dos imigrantes é uma prioridade, o que levou à criação de uma estrutura de missão para recuperar os 400 mil processos pendentes.

"Para a AIMA, é uma preocupação o facto de as pessoas estarem em situação regularizada", afirmou, lembrando que "as autorizações de residência foram prolongadas até 2025" e há um esforço de articulação com as associações de imigrantes para agilizar os processos, algo criticado pelos líderes locais na assembleia municipal.