“A Liga está extremamente preocupada quando há uma diminuição na acessibilidade às ajudas de diagnóstico”, disse Vítor Veloso, presidente da Liga Portuguesa do Cancro (LPCC), em declaração à Lusa, comentando as dificuldades de acesso às consultas de ecografia mamária e tiroideia através do Serviço Nacional de Saúde (SNS) em seis dos 14 distritos onde a Unilabs presta esses serviços.
Para Veloso, “o impacto é preocupante, pois poderia potencialmente aumentar o tempo de espera por esse diagnóstico e, consequentemente, atrasar, no caso de pacientes com câncer, uma situação que absolutamente precisa ser esclarecida”.
No entanto, se a consulta foi feita por meio de seguro ou como cliente particular, a situação foi invertida, com consultas disponíveis na maioria desses distritos em um período entre cinco e 26 dias.
A exceção à regra foi encontrada nas unidades que atendem o distrito de Faro, onde também não havia consultas para essas ultrassonografias por meio de seguros ou clientes particulares, e no distrito de Viseu, onde também não era possível agendar uma ultrassonografia mamária por meio de planos de saúde ou clientes particulares.
Na época, a Unilabs, quando questionada pela Lusa, admitiu que “em algumas áreas geográficas e tipos de exames”, já havia “de fato alguma dificuldade de acesso”, enfatizando, no entanto, que a falta de preços atualizados acordados há mais de 15 anos dificulta a disponibilidade de especialistas para realizar esses exames.
Até hoje — e de acordo com uma nova pesquisa realizada pela Lusa — a situação permanece a mesma, com exceção de Braga, onde agora é possível agendar ultrassonografias da tireoide através do SNS, embora por 64 dias no futuro. No entanto, se você tiver seguro, poderá fazer o mesmo exame em três dias.
Embora não tenha recebido reclamações específicas sobre esta situação, a Liga Portuguesa Contra o Cancro relatou tempos de espera de “vários meses” para as primeiras consultas, mais longos do que o estipulado por lei.
De acordo com o presidente da Liga, os atrasos são generalizados em todo o país, seja para exames, consultas com especialistas ou cirurgias, com particular preocupação no câncer de pulmão e pâncreas, que exigem respostas rápidas.
Vítor Veloso enfatiza que o aumento do tempo de espera tem um impacto negativo nos pacientes, potencialmente levando a uma piora do prognóstico e ao aumento dos custos para o Sistema Único de Saúde (SUS), pois “quanto mais avançada a doença, maior o custo”.
Ele acredita que a falta de atualização dos preços pagos pelo Estado aos fornecedores privados, que estão congelados há 15 anos, não pode justificar a falta de soluções. Ele até acha estranho que “a questão dos ultrassons não possa ser negociada quando outros métodos diagnósticos complementares foram recentemente objeto de um acordo
”.O presidente acredita que, embora não esteja sozinho, o Estado “é o grande responsável” pela situação ao não cumprir a portaria que exige a revisão anual das tabelas de preços, e defende que as negociações devem ser conduzidas “em tempo hábil” para evitar comprometer o acesso dos pacientes.
A Lusa questionou a Administração Central do Sistema de Saúde (ACSS) — responsável pelos acordos com o setor — sobre as dificuldades de acesso às consultas de exames através do SNS em prestadores de saúde privados, e ainda não recebeu nenhum esclarecimento.