No que toca à inflação, inicialmente, compartilhei uma perspetiva otimista, baseada em relatórios recentes que sugeriam movimentos promissores nos indicadores fundamentais. No entanto, desde então, os dados mensais de dezembro surpreenderam de forma positiva na Zona Euro, Reino Unido e EUA. Isso fez com muitos decisores políticos, investidores e analistas tivessem dúvidas, após semanas em que os mercados previram grandes cortes nas taxas de juro este ano.

Focando na relação entre salários e produtividade, destaquei que a persistência de aumentos salariais precisa ser acompanhada por evidências de aumento na produtividade e também em benefícios fiscais. Essa interligação é crucial para sustentar salários reais sem inflação.

Além disso, explorei três motivos para adotar uma postura cautelosa em relação a um aperto monetário. Primeiro, a expectativa de recuperação na produtividade pode não se refletir imediatamente nos dados. Segundo, avanços em inteligência artificial, transição para energias alternativas e mudanças nos padrões laborais indicam potencial para melhorias. Terceiro, considerando o impacto social, aumentos de salários reais podem moderar atitudes políticas e aliviar desilusões populares em relação ao capitalismo global.

De qualquer modo, dou por mim a agarrar-me à mesma esperança que tinha no mês passado. Afinal, os dados da produtividade chegam com atraso, por isso seria arriscado se os banqueiros centrais reagissem com demasiado vigor a aumentos salariais continuados, declarando, por exemplo, que vão manter uma política monetária mais restritiva do que fariam noutro cenário.

Esses fatores, contribuem para um cenário de espera para avaliar o panorama económico português em 2024.

Em relação aos outros fatores cíclicos, três coisas saltam à vista. Primeiro, os dados da economia chinesa e o desempenho dos mercados financeiros continuam a desapontar, em termos gerais, apesar de grandes esforços das autoridades para apoiar uma recuperação robusta.

Em segundo lugar, nos EUA, a maioria dos indicadores económicos continuam a ser melhores que o esperado. É um alívio, porque também muitos mercados tiveram um início do ano agitado.

Por fim, apesar das questões preocupantes no Médio Oriente e na Ucrânia, a volatilidade do preço das matérias-primas permaneceu incrivelmente moderada. Talvez existam alguns fatores técnicos estranhos de oferta e procura que explicam isto. Mas seja qual for o caso, a relativa estabilidade é percetível em muitos mercados. A maioria das matérias-primas chave, bem como a maioria dos índices de matérias-primas reconhecidos, registaram quedas em comparação com o ano passado. Também isso é ligeiramente tranquilizador.

Concluo com as seguintes palavras “É tempo de arregaçar as mangas e fazer algo a nível nacional para não nos limitaremos só a um cenário de espera”, permitindo a outros uma avaliação mais abrangente do panorama económico português em 2024.


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Paulo Lopes is a multi-talent Portuguese citizen who made his Master of Economics in Switzerland and studied law at Lusófona in Lisbon - CEO of Casaiberia in Lisbon and Algarve.

Paulo Lopes